segunda-feira, 28 de setembro de 2015

28.09.2015

"O silencio machuca e até mata".
Meu nome não é Beatriz, porém uso o pseudônimo de Bya Albuquerque na comunidade que criei e administro faz oito anos, chamada "Filhas do Silencio". A comunidade trata do abuso sexual, com enfase em ajudar pessoas mais velhas a colocar para fora sua dor. E também mostrar as consequências devassadoras do abuso sexual, principalmente o infrafamiliar. É formada por três blogs, duas páginas, dois grupos (um fechado e outro secreto, somente para as mulheres abusadas), um e-mail e um perfil no facebook. 
Na verdade, a comunidade deveria se chamar "Filhas e Filhos do Silencio"...porém quando adentrei nesse mundo "paralelo" aos 40 anos, jamais pensei em encontrar tantas pessoas abusadas e tanto sofrimento. Por ter sido uma filha do silencio, achei que eram poucas as pessoas que foram abusadas numa época passada...
Hoje em dia o termo "abuso sexual" abrange desde o molestamento até o estupro. Muitos vivem somente uma fase...outros, assim como eu, passam por todas as etapas. Mas a pior violência é a emocional, que permanece por toda vida e que não deixa você falar. É um círculo vicioso: o emocional devora o físico e vice versa. No meu blog de depoimentos tenho menos de 100 relatos, porém tenho mais de 200 relatos arquivados, já que as vítimas não permitiram a publicação. Eu nunca peço a ninguém para que seja publicado, pois sei como um depoimento muitas vezes é difícil de ser assimilado pela própria vítima. Muitos me escrevem contando sua história e querendo apenas desabafar. Outros pedem eles mesmos para que o seu relato seja publicado no blog. Quanto mais jovem é a vítima, mais fácil lidar com o abuso. Mas tenho vítimas de 60 a 80 anos. De várias classes sociais. Às vezes recebo somente um comentário: fui ou sou uma / um filho(a) do silencio e o triste que ainda agradecem por terem conseguido falar. Fico extremamente abalada com relatos curtos e tão diretos. Imagino quanto tempo a pessoa precisou "tomar" coragem para escrever essas poucas palavras. Respeito demais todas as vítimas, alias não somente do abuso sexual, mas também do preconceito...bullying...discriminação...assédios...e da omissão social. 
O silencio machuca porque vai corroendo por dentro. Aparentemente  o abusado leva uma vida normal (dentro das suas possibilidades). Mas é somente aparentemente. Porém sofre com vários tipos de transtornos e fobias. Com a depressão, insonia, transtornos alimentares, ansiedade, vaginismo (nas mulheres), vários tipos de síndromes, como a Síndrome e Doença de Cushing, auto mutilação e baixa estima. Muito comum são a procura de drogas lícitas ou ilícitas e transtornos sexuais. Um deles já machuca e muito. Quando se juntam vários...é devastador.
Alguns não aguentam a pressão e se matam, já que não encontram forças e solidariedade necessárias para continuar sua jornada. Nesses oito anos passei por quatro suicídios dos membros e duas tentativas, uma foi nesse mês de setembro.
Falar ou escrever...são um grande alívio. O problema é que muitos não querem escutar...entender...ser solidários. Falar no fim do abuso sexual é a mesma coisa que falar do fim das drogas...da violência urbana e doméstica...corrupção. Não existe um final. mas podemos investir nas precauções e divulgar as terríveis consequências. Somente assim, quem sabe, podemos diminuir o número de filhos e filhas do silencio, a dor provocada por esse silencio e, por consequência, a morte.
B.A



quinta-feira, 24 de setembro de 2015

25.09.2015

Quarta feira não dessa semana, mas da semana passada, sofri um acidente. Foi feio e o meu osso do braço saiu fora do lugar. Muita dor e incomodo. Agora já estou bem melhor, mas ontem bati sem querer o braço no lugar dolorido e pronto, comecei sentir dor novamente. Por isso não pude escrever. Minha gripe melhorou bem. Somente a minha alimentação é que vai de mal a pior e a insônia voltou com tudo. Uma coisa é você dormir duas horas por dia, outra é não dormir nada por dias. Tento descansar, é claro. Principalmente com o calor insuportável que tem feito aqui. Então tento descansar de dia e fazer as coisas à noite...
Minha ansiedade diminuiu bem e com isso eu estou conseguindo ter mais paciência com o meu filho e estamos relativamente bem...
Amanhã, ou melhor, hoje vou dar minha aula de russo e depois almoçar na minha mãe. Ela vai para Alemanha daqui a uma semana.
Tenho trabalhado com mais afinco na comunidade e estou colhendo os frutos do meu trabalho. Isso é bom, porque mostra que estou no caminho certo. Tenho interagido mais com os amigos do facebook e isso também está me fazendo bem. Aos pouquinhos estou caminhando pra frente, pelo menos virtualmente. Pena que pessoalmente continuo na mais completa solidão. E a solidão está pesando e muito. Nos finais de semana fico sozinha, já que meu filho tem viajado para acampar (o que é muito bom) e minha mãe sempre sai com os amigos dela...aqueles que me odeiam por ter revelado o abuso e para quem minha mãe não contou do abuso sofrido pela minha irmã. Então continuo sendo a mentirosa...
Fiz uma amizade que estava me fazendo muito bem, pena que a pessoa, bem mais nova que eu, começou a se perder em certas coisas e se apresentou muito imatura. É uma pena, pois eu gostava da nossa amizade, mas não tenho nem tempo e nem paciência para aguentar certas coisas. Acredito que quem não passou por um abuso sexual e um fortíssimo abuso emocional, nunca entenderá a nossa maturidade, a nossa visão das coisas. Infelizmente não posso contar aqui o que aconteceu na comunidade, pois não comprometeria ninguém. Mas as coisas que acontecem são muito sérias e doloridas e geralmente, mais que o abuso sexual...é a violência emocional que tem um peso maior. 
Amanhã é aniversário de um ex-amigo, filho de uma amiga virtual que gosto muito. Resolvi lhe dar os parabéns e farei de coração. Acredito que quando fazemos as coisas de coração e sinceridade...isso gera uma boa energia. E estou precisando e muito de energias positivas.
B.A

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

14.09.2015

Ainda não sarei completamente da gripe. Deve ser a imunidade que está baixa e falta de alimentação. E ansiedade resolveu voltar para uma "visita". Tenho dormido mal...sempre com pesadelos que beiram com a realidade. Ontem tomei 3 comprimidos de Rivotril e agora de manhã, precisei tomar mais um. Senti forte náusea, porém meu estomago estava vazio. Retrocedi no tempo...
Talvez porque ao me abrir...como tenho feito...preciso lidar com a realidade crua e nua...e não é nada fácil. Saber que não são os meus sentimentos por outros que não me deixam seguir em frente, e sim os sentimentos por mim mesma. Estou me boicotando todo o tempo. Não faço de propósito...muitas vezes nem percebo. Mas estou. Não me cuido nem fisicamente e nem emocionalmente. Então sinto-me culpada...frustrada...um lixo. Porém preciso lutar com todas as minhas forças contra isso, pois nos últimos dias não estou me sentindo bem. Uma coisa é escrever aqui...despejar os meus sentimentos sem a preocupação de quem irá ler e o que irá achar. Outra coisa é falar desses sentimentos com uma pessoa. Não é a vergonha, pois aprendi que a vergonha de se expressar é uma forma de prisão. É ficar frente a frente com os meus atos...sentimentos. Sei lá...está sendo novo para mim e talvez isso tem provocado toda essa ansiedade. Se estou magoada e escrevo...termina aí. Mas ao dialogar, você é confrontada com a realidade. Aquela realidade que tento "esconder" de mim mesma...que tento não enxergar e com isso adia-la para mais tarde. Só que cheguei num ponto da minha vida que não posso/devo adiar mais. E pensar em reagir e em mudanças mexe com todo o emocional. Estou recebendo ajuda, mas antes de tudo preciso estar disposta a me ajudar. Será que estou pronta?
Eu e o meu filho tentamos conviver civilizadamente, mas está sendo muito difícil. Como mãe e pessoa, preciso que ele me respeite mais, porém perdi todo e qualquer controle por ele. Uma situação altamente desgastante!!!
Estou dando aulas de Russo e caminhando mais. Já não sinto falta de ar e nem tontura ao sair para rua. Isso é bom.
O que falta agora é começar a me alimentar decentemente, para não me sentir tão mal. Esse é o primeiro passo que devo dar para a minha "libertação" e melhora. Um passo de cada vez...
B.A


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

09.09.2015

Continuo doente. Dessa vez a gripe me "pegou bonito". Faz tempo que não estive tão doente...gripada. O problema com o meu filho me enfraqueceu emocionalmente, baixando minha imunidade. Sem dormir e comer direito, a saúde piora. E o pior: como meu filho está também gripado e como sei que nós, mulheres, aguentamos melhor as diversidades da saúde, ele está chato...quase insuportável e me fazendo de empregada. Muitas vezes não sei como aguento ficar em pé e nem fazer as coisas. Eu queria estar sendo cuidada...deitada...porém hoje andei horrores para resolver os problemas dele. É claro que fico contente de saber que estou andando muito e sem ter problemas de respiração. Porém já me machuquei por causa do cansaço duas vezes e os hematomas são terríveis (Síndrome de Cushing).
Também estou um pouco magoada com a minha mãe. Ela me trata super bem...porém ainda não confessou aos amigos russos que me crucificaram, que a minha irmã também foi molestada...já que a mesma é tão querida por esses amigos. Acabei perdendo duas reuniões por não querer encontrar com eles...não quero criar uma situação constrangedora. Não é do meu feitio. Mas hoje disse abertamente à minha mãe o quanto me ressentia de estar sendo posta de lado. Minha mãe ficou sem graça...mas não vai querer perder os "amigos" e falei para ela que não era justo eu sendo uma vítima...ser tratada como uma mentirosa. Muitas vezes a solidão pesa demais e sei que há russos que gostariam muito de manter contato comigo. Bem...deixa pra lá. A justiça demora, mas não falha.
Sexta passada comecei a dar aulas de russo. Foi ótimo. Me senti bem e segura. E senti-me realizada novamente, já que dar aulas é a coisa que mais amo como profissão.
Amanhã é um outro dia. Comprei um remédio bom para gripe e espero melhorar logo. Sexta pretendo dar minha aula. E amanhã prometi a mim mesma que ia fechar os olhos para as frescuras do meu filho e tentar descansar ao máximo.
B.A







segunda-feira, 7 de setembro de 2015

07.09.2015

Estou doente fisicamente e emocionalmente. Muitas coisas aconteceram e algumas bem graves. Ainda não estou preparada para escrever sobre os acontecidos...mas vou. Manterei-me fiel a mim mesma...E espero que seja brevemente.
B.A