sábado, 13 de junho de 2015

13.06.2015

Quinta feira foi um dia muito tenso. Passei bastante carinho ao meu marido e, principalmente, para minha filha. De quinta para sexta foi uma noite horrível. Meu marido faz curso à noite todas quintas e desliga o celular. Muitas vezes esquece de ligar após o curso e não consegui falar com ele. Passei toda noite acordando hora em hora, com dor de estomago e cabeça de nervoso. Mas no final sobrevivi e acredito que certas situações somente nos fortalecem.
Ontem e anteontem obtive uma GRANDE vitória sobre mim mesma. Após mais de dois anos sem sair de casa, saí sozinha...sem motorista. Quinta meu filho não estava bem, mas eu precisava ir ao supermercado e farmácia. Juntei toda minha coragem para sair de casa. Os dois locais não são longe...o grande problema é a subida íngreme na volta. Já era mais de onze e meia quando saí, após ter escrito aqui e lavado o quintal. Não tinha comido nada e na ida me sentia uma pluma...eu balançava pra caramba...muitos devem ter pensado que estava drogada ou tinha bebido. Fui andando, tentando me acostumar com o transito da avenida e pensando que eu ia conseguir. Na volta eu estava carregada de compras e a subida literalmente acabou comigo, ainda por cima sob intenso sol e calor. Mas eu CONSEGUI!!! Ao voltar, encontrei o quintal sujo com vomito de um dos pets (é o Bem, que tem mania de comer folhas). Troquei de roupa e limpei. Acho que demorou umas quatro horas para que o meu coração voltasse ao normal...desacelerasse. Assim mesmo não consegui me alimentar bem e precisei esperar até deitar para tomar o último Rivotril.
Ontem mais uma ENORME vitória. Meu filho ainda não estava 100%, mas queria me acompanhar. Eu não deixei, pois o sol já estava forte e o calor grande. Também não chamei a motorista. Ontem, sim, é que andei muito. Não é só o fato de andar: também de vencer minha fobia social...vergonha de mim mesma. Tanto na ida como na volta havia subida. Fui ao banco...peguei o colete do meu filho (colete que estava para ajustar)...depois ao médico. Minha médica, após 16 anos, retirou fluoxetina. Não sofro mais de depressão!!! Somente de ansiedade que causa o transtorno alimentar e insonia. Ela passou dois remédios que são novos no mercado: uma dose pequena de manhã para ansiedade e um remédio que induz ao sono. Eu não quis comprar ontem, vou pesquisar agora na internet sobre os mesmos e devo comprar na segunda. Continuo com o Rivotril. Após a médica eu tinha combinado de almoçar com a minha mãe. Ela estava no salão, então fui até lá e depois fomos para casa dela. De manhã me forcei a comer um danoninho, pois sabia que precisava andar muito. Minha mãe fez um almoço bem leve...carne com salada. Não parou de me elogiar...a aparência...o fato de eu ter vindo a pé. Não teve discussão...críticas. Foi bom. Ao voltar, ela queria que eu pegasse um táxi, mas preferi voltar a pé. E consegui...sem sentir tanta taquicardia...porém ainda evitando de olhar para as pessoas. Saí antes das nove e voltei depois das duas. Eu nem lembrava o que era isso!!! Procurei andar um pouco no sol, sentir o seu calor, pois vivo sombria sempre na sombra. Antes de sair de casa fiz algumas tarefas domésticas e, ao voltar, concluí uma delas. Recebi muitos elogios...meu marido, meus filhos, minha médica...todos estão orgulhosos. Mas o importante é que EU fiquei orgulhosa de mim mesma, muito orgulhosa, fato que não acontecia mais de quatro anos, quando a fobia social voltou.
Sei que muitas pessoas devem achar tudo isso uma bobagem. O que é sair de casa...lavar o quintal e a roupa...e outras coisas? Mas para mim são pequenas vitórias, pois seis meses atrás eu estava presa e sem fazer nada. Ainda falta muito para atingir a perfeição, mas já dei o primeiro passo. Para uma pessoa que sempre foi altamente ativa...que chegava a andar cerca de 20 km por dia, ficar parada, não conseguir fazer as coisas é uma "morte" lenta e dolorida. Além de enfrentar as pessoas, precisei enfrentar o meu EU. O fato de estar melhorando aos poucos é bom. Quando a melhora foi rápida, sempre voltei a estaca zero. Agora estou caminhando aos poucos para vencer a baixa estima...fobia social...e ansiedade. Se eu conseguir sair de casa todos os dias...nem mesmo que for um pouco, é um progresso enorme na minha vida, pois ao mesmo tempo estou driblando as consequências do abuso sexual. Não tenho esperanças de uma melhora de 100%...porém se conseguir melhorar 50% já é um objetivo alcançado. Quem passou por tanta brutalidade entenderá o que eu quero dizer. O resto é resto...
B.A

quinta-feira, 11 de junho de 2015

11.06.2015

Preciso escrever para extravasar toda dor e toda ansiedade que estou sentindo. Pensei em escrever amanhã, por causa de uma coisa boa. Mas coisas ruins estão acontecendo com o meu marido e minha filha e a dor, ansiedade e frustração que estou sentindo nesse momento são tão grandes, que não consigo conter as lágrimas e preciso colocar para fora, pois estou começando sentir todos os sintomas de problemas no coração. E tenho somente um comprimido de Rivotril...amanhã vou até a psiquiatra para pegar a receita e preciso aguentar até amanhã.
Meu marido e minha filha estão sofrendo abuso moral e emocional de uma pessoa próxima a eles. Não é de agora, mas os acontecimentos de ontem simplesmente ultrapassaram qualquer limite de dignidade. Como meu marido comentou: enquanto era somente com ele, ele aguentou. Mas a partir do momento que isso atinge diretamente nossa filha, o caso muda. Não entendo porque há pessoas que são tão doentes emocionalmente e em vez de procurar uma cura, descontam e com toda a maldade nos próximos. Eu, que já vivi a violência emocional e assédio moral, sei como isso é doloroso. É uma dor cultivada em silêncio. É uma injustiça que não consegue ser digerida. Meu marido não dorme direito faz tempo, sempre buscando soluções e se mantendo calmo e tentando ser positivo. Minha filha também não está dormindo e está tendo muita dor de cabeça...causada emocionalmente. E eu estou de mãos atadas, não tenho como os ajudar, a não ser repassando todo o meu carinho...força...e amor. Não vou contar o que está acontecendo, não vale a pena. Mas sei que sou uma das causas desse ataque e não posso mudar isso...infelizmente. Só espero que os dois sejam fortes o bastante para mudarmos toda essa situação. Estamos em busca da paz de espírito, mas parece que forças maiores fazem de tudo para as coisas darem errado. Muitas vezes o destino é altamente cruel...
Hoje preciso ser forte, pois tenho muita coisa para resolver...preciso sair de casa e quero fazer tudo a pé. Amanhã também. Meu filho deixou de fazer as coisas dele ontem pelo prazer de sair comigo hoje, já que ainda estou super resfriada e fraca por falta de comer. Não posso e nem quero desaponta-lo. 
A coisa boa que está acontecendo é que recebi várias mensagens de muita força e carinho pelo trabalho que tenho feito na comunidade. Mensagens de pessoas famosas que eu jamais imaginaria que soubessem da minha causa. Está sendo uma grande surpresa para mim. Sempre estou recebendo mensagens edificantes das pessoas que viveram o abuso sexual e emocional. Mas nunca achei que tantos jornalistas e outras celebridades sabiam o que faço. Elas não curtem as postagens...não comentam. Mas sabem sobre as "Filhas do Silêncio" e no dia do meu aniversário e após, mandaram muitas mensagens com muitas vibrações positivas. Sou grata a todos, sejam famosos ou não. É que simplesmente eu não esperava...O objetivo da minha causa é divulgar ao máximo a luta pela vida das pessoas que são mais velhas, passaram pelo abuso sexual quando esse termo e termo pedofilia mal eram conhecidos e falados. Vivemos numa época de tabu e quando o abuso é infrafamiliar, esse tabu aumenta de dimensão. Então, quando sem esperar, começo ver que as pessoas acompanham o meu esforço, é muito bom. Tempos atrás sofri uma injustiça enorme, causada por pessoas ignorantes, interesseiras e egoístas. A comunidade foi difamada, precisei tomar medidas radicais e perdi amizade das pessoas que eram caras para mim. Porém eu estava com razão e não tenho culpa que muitos entram na causa contra o abuso sexual para se promover...para se sentir importante. Isso é muito triste, mas é real. Quem "lucra" com algum tipo de violência (não estou  falando de dinheiro, mas sim do ego), não deveria abraçar uma causa tão dolorosa e tão difícil de entender, pois não tem como explicar os sentimentos...a dor. Eu tento viver no caminho do perdão. E ainda bem, pois já teria feito altas besteiras e ainda viveria com ressentimentos e intensamente deprimida.
Bom, a adrenalina abaixou e o coração não está mais tão disparado. Vou tentar fazer as coisas e mandar muitas vibrações positivas ao meu marido e minha filha.
Bendito diário!!!
B.A

terça-feira, 9 de junho de 2015

09.06.2015

Não deu para escrever antes por conta do forte resfriado, que se agrava pelo fato de me alimentar mal e dormir pouco. As crises de ansiedade estão fortes, porém tenho resistido ao máximo. E o meu filho trocou feio o dia pela noite...o que é péssimo, pois tenho que cuidar da sua alimentação. Apesar de ser grande, ele é que nem eu: come mal e somente quando sente necessidade. Mas isso não basta e como mãe, cabe a mim cuidar dessa parte. 
O dia do meu aniversário foi bom. O almoço estava delicioso, com direito a caviar. Sem agressão verbal...sem discussões. Esses dois fatos fazem que eu já não deixo mais de atender os telefonemas da minha mãe e também sempre ligo para ela pra saber como está. E com isso, o nível de stress baixa muito, pois a violência verbal é tudo de ruim. Minha irmã entrou no SKYPE (me chamou) da Alemanha...me mostrou o apartamento e falei com o marido dela também. A única coisa ruim é que a Athena (minha cachorrinha) passou 4 dias tendo convulsões e só no dia do meu aniversário foram 5. Mas agora está bem. Semana que vem vamos ao veterinário. 
Ainda não conversei com a minha irmã sobre o abuso que ela sofreu. Acho que cabe a ela tocar no assunto, principalmente pq ela me depreciou demais, me chamando de mentirosa...louca...e coisas piores. Fiquei triste, muito triste quando soube e por vários dias. Porém ela foi abusada quando eu já estava grávida da minha filha e eu fiz de tudo para evitar essa situação. Mas não podia viver toda minha vida em função da minha irmã. Talvez por isso ela se afastou de mim, pois não sei o que louco do meu pai lhe disse. Ele pode ter muito bem dito a ela que eu gostava e concordava...Bom, agora já foi e o jeito é conviver com todos esses fatos, deixando eles bem esquecidos já que o tempo não volta e não temos como reparar certas atrocidades.
Vejo que o blog está sendo muito visualizado...de vários países. Então espero melhorar logo desse resfriado para manter a promessa de escrever mais sobre as consequências do abuso sexual nos mais velhos (como ficamos). Apesar de algumas pessoas não concordarem com a exposição, continuo escrevendo para mim mesma e é um grande alívio escrever. Se fosse um livro, com o mesmo nível de exposição...será que seria criticada? Mas não quero me limitar às páginas...pois cada dia descubro...reflito sobre novas coisas. Precisaria então de uma coleção de livros para escrever...
Também notei como estou indiferente em relação a várias pessoas. Isso eu acho ruim, pois nunca fui assim. Talvez cansei de ser criticada e cobrada...
B.A

terça-feira, 2 de junho de 2015

02.06.2015

Hoje estou completando 48 anos. Reli o que escrevi no ano passado no meu aniversário. Mas não reli as outras postagens...muitas delas estão guardadas na memória e no coração. No ano passado passei um dia muito agradável. Não sei como será hoje...Pra variar dormi menos de 3 horas e acordei com ansiedade. Porém hoje em dia consigo lidar melhor com a mesma...procuro ao máximo não tomar Rivotril...fico lendo ou vendo séries na TV. Levantei às 3 da manhã...entrei na net e conversei com um amigo de Paris. Foi bom para treinar o francês, mas infelizmente aprendi o idioma para poder ler Zola no original e não desenvolvi a conversação e muito menos a escrita, então ficou um pouco difícil. Alem disso, ao ler Zola em francês, comparei com o russo, pois a maioria dos livros estão no meu idioma natal. Antes das seis já tinha lavado o quintal...vou tomar um banho...por roupa para lavar...antes de almoçar na casa da minha mãe com o filhote. Minha mãe convidou para sair (comida japonesa que eu amo), mas sei que ela não gosta, então pedi para ela fazer uma bacalhoada (que eu amo e não como faz anos). Ir na minha mãe deixou de ser um fardo...uma obrigação e fico feliz com esse nosso entendimento, mesmo tão tarde nas nossas vidas. Fica faltando a companhia do meu marido e da minha filha...apesar de que estou super bem com o meu filho. Há paz em casa e o stress das brigas diminuiu muito.
Fiquei refletindo nesse ano de vida que passou. Quantas coisas eu superei e quantas pessoas consegui perdoar ou tirar da minha vida!!! Acho que tive um grande progresso em relação a mim mesma...mas ainda falta muito. Preciso focar em mim mesma e nas minhas superações (as quais quero atingir). A fobia social diminuiu e a estima melhorou. Muitas vezes ainda tenho crises de depressão, mas não tanto como antes. Percebi que até os sintomas da TPM diminuíram. Percebi que mesmo não me alimentando direito e com poucas horas de sono, mantenho a aparência jovial. Não tenho rugas, pareço mais nova do que os meus 48 anos e por dentro já não me sinto "velha" e inútil. É lógico que o meu maior defeito a vencer é a tentação de cair sempre nos mesmos erros. Por isso aprendi a não me cobrar tanto e viver um dia de vez. Quando consigo realizar as metas do dia...me sinto uma grande vitoriosa. E quando falho, tento não me molestar com pensamentos depreciativos. Agora a minha luta vai ser parar de fumar e diminuir ao máximo a cerveja. Procurar não me estressar com os problemas (aos poucos estou conseguindo...). Muito caminho a percorrer pela frente. Fiz as pazes com a insonia, mas preciso cuidar da minha alimentação. E, principalmente, fazer as pazes comigo mesma. Voltar a ter vontade de cuidar da roupa...quando sair, passar uma maquiagem básica. Mas o principal de tudo é voltar com força para a comunidade e o mais importante ainda é reunir a família novamente. Percebi o quanto estive só nesses quase cinco anos em Ribeirão e quero diminuir essa solidão, pois quando estamos reunidos, sinto uma paz imensa (mesmo com ansiedade!!!). Preciso também investir mais no meu casamento, pois os filhotes cresceram e estão tendo uma vida própria, valorizando sim a família, mas aos poucos "batendo as asas". Não gosto de fazer planos para o futuro, mas gostaria nesse ano novo de vida juntar a família (quem sabe valerá a pena a mudança para São Paulo), cuidar deles e dos pets, cuidar da casa (sou péssima nisso). Vencer certos obstáculos. Mas, principalmente, daqui a um ano ver o meu crescimento emocional e espiritual.
B.A