sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

27.02.2015

Meu filho voltou para casa. Viva o Conselho Tutelar!!! Foi um sofrimento para ele...para mim...para o meu marido...e para a minha mãe. Sei que aprendeu a lição. Foi morar como ele mesmo denominou num cortiço, com tudo faltando...sujo. E o pior de tudo: foi extorquido. Dinheiro que ele ganhou trabalhando. Ele está triste, arrependido e me pediu muitas desculpas. Foi bom ele ter vivenciado essa situação, pois sem ela jamais saberia como é. Não sei como será no futuro. Mas sei que foi difícil ele ter vivenciado essa situação e ter visto que o mundo lá fora não é fácil. Cuidei dele ontem...não briguei. Passei mal de madrugada de anteontem para ontem e fui para o PS. Eu sabia que era uma crise fortíssima de ansiedade, mas o médico pediu que eu tomasse muito cuidado por causa do coração. Crises de ansiedade é uma CONSEQUÊNCIA DIRETA do abuso sexual, já que vc vive sempre com medo e ansiosa, esperando a próxima investida do abusador. Parece muito com um ataque cardíaco e eu já tive 3 micro infartos por confundir os sintomas que são:
- dor nas costas
- azia
- suor intenso
- enjoo
- falta de apetite
- vomito e cabeça rodando
- fadiga intensa
- dor no peito (como se o mesmo fosse esmagado por um bloco de cimento)
- falta de ar
- pontadas no coração
- formigamento nas mãos
- dor no braço esquerdo

Todos esses sintomas podem ser confundidos com infarto e sempre devem ser vistos com cuidado e sempre se deve procurar um médico. Fui medicada, mas não consegui descansar nada. O telefone e o celular não paravam de tocar. Mas no fim...tudo deu certo.
Dia 22 (Domingo) fui almoçar na minha mãe e conversamos abertamente sobre o abuso que sofri. Ela ficou horrorizada com o abuso emocional e também culpada, já que fechou os olhos para a situação e vivia me agredindo verbalmente. Pediu muitas desculpas e também me contou muitas coisas sobre o meu pai e sobre o que aconteceu com ela. Não vou comentar aqui, já que algumas coisas ela contou pela primeira vez e devo respeitar isso. Mas comprova que ela desconfiava do abuso...
Amanhã irei ver e conversar com uma nova psiquiatra, que quer me ajudar. O engraçado é que mesmo conversando informalmente e eu sorrindo, ela percebeu que havia algo de errado comigo e disse (como já disseram várias pessoas) que mesmo sorrindo, os meus olhos passam uma tristeza imensa. Mais uma pessoa do bem querendo me ajudar!!!
Outra coisa que eu quero comentar é que há pessoas que não concordam com o meu jeito de escrever esse diário...com o meu jeito de me expor. Quero dizer que cada pessoa que passa ou vive uma violência nunca irá reagir do mesmo jeito. Cada um é cada um. Se esse diário alivia a pressão que sinto no peito...não importa o que escrevo ou sobre quem comento. ESSE É O MEU ESPAÇO. Não peço a ninguém para ler e nem vou voltar a ser filha do silêncio. Se não gostam...por favor, deixem de ler. Mas não aceito que falem que estou me expondo e expondo a minha família. Já fui muito mais exposta quando escrevi o meu depoimento que abre o Blog de Depoimentos. Esse diário é o meu legado, já que não pretendo escrever um livro. Nele está o que uma mulher de 47 anos passa no seu dia a dia...por causa das consequências e da violência psicológica sofrida. Aos poucos vou informando sobre as consequências gerais...mas as pessoais só são vividas por mim e somente cabe a mim divulga-las ou não. Meu marido, que lê o que escrevo, concorda plenamente com isso. Passei a vida toda tentando agradar aos outros, mas agora estou cuidando de mim mesma. E esse diário tem sido uma ajuda imensa para mim.
B.A

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

25.02.2015

Triste...muito triste. Anteontem meu filho de 16 anos saiu de casa para morar com amigos. Ele sempre quis isso e não teve um motivo aparente para faze-lo. Não brigamos nem nada...Ele simplesmente aproveitou que eu estava ao telefone e se foi. Sem roupa e sem documentos. Fiquei muito magoada. Foi primeiramente para casa da minha mãe. Foi um horror. Minha mãe ficou do meu lado, mas ele fez tanta chantagem emocional com ela que acabou dormindo lá. Também contou muitas mentiras, como sempre fez quando tenta conseguir um intento e joga um contra outro. Ontem já foi para casa do amigo onde moram vários. Meu marido não está mais falando com ele e nem queria que ele pegasse nem roupa e nem documentos. Porém como mãe é lógico que arrumei umas roupas e a documentação. Também comida que era dele: leite, toddy, bolachas, miojo, pipoca, bifes. Só que na casa do menino não tem gás!!!
A irresponsabilidade do meu filho vai custar caro a ele e já está custando ao meu marido e eu. Acho que ele vai largar o colégio (ele diz que não e assim espero). Não sei o que ele pretende com tudo isso, já que além das coisas materiais ele tinha todo o nosso amor. Acredito que isso não foi coisa de momento. É uma pena, mas decidi que na primeira dificuldade não vou deixar ele voltar e nem passar mão na cabeça dele. Ele não queria a liberdade? Esse mês ele fez um bico e vendeu o computador...está com dinheiro. Mas e depois? Como vai pagar sua parte no aluguel...água...luz? Como vai comprar comida (ele disse que ia pedir para minha mãe, só que ela está tão revoltada com atitude dele que disse que não vai ajudar...assim espero). Como vai lavar roupa? Meu filho é um idealista e não tem a miníma ideia das dificuldades reais...
Vou notificar o Conselho Tutelar e o colégio. Avisei que quando ele fizesse o que fez não tinha volta. Se passar dificuldades, terá de enfrentar. Só assim aprenderá que a vida não é uma eterna festa. 
Tudo isso é uma lástima. Criei meus filhos para o mundo, mas não para a irresponsabilidade. E agora preciso aprender a conviver com mais essa dor e preocupação.
B.A

sábado, 21 de fevereiro de 2015

21.02.2015

Voltei com o meu marido. Terça ele me pediu mais uma chance e eu dei...porém não posso dizer que estou feliz ou completamente certa de que é isso que eu quero. Vai depender muito dele, de mudar o seu jeito de acomodado e de juntar a família novamente. Para mim tudo continua na mesma...a não ser que estamos mais light um com outro.
Minha filha continua com problemas e dor no joelho...mas sinto ela um pouco mais animada.
Estou deixando meu filho sair (controlo o máximo que posso) e esse final de semana quase não o vi (desde quinta) e somente o verei no domingo à tarde. Mas pelo menos ele está mais feliz...não está mais viciado no pc...tem feito exercícios e está bem mais colaborativo em casa.
E eu estou bem mais ativa e contente comigo mesma. Consigo fazer mais coisas em casa. Mas a depressão voltou devido a grande solidão que tenho sentido. Quinta e, principalmente, ontem tive várias crises de choro e não sou disso. Sinto-me imensamente só por fora e por dentro. Não devia ter dado a entrevista para o programa de TV, pois tenho pensado mais no abuso sofrido e estou sofrendo com isso, pois raramente pensava no mesmo. Acabei me arrependendo mas ao mesmo tempo sei da importância do depoimento. Ainda bem que não vou aparecer...já estou com vergonha de mim mesma. 
Assisto muitos programas de culinária na TV paga e há muitos pratos que são desconstruídos. Resolvi fazer o mesmo com o meu texto e vou começar a publicar aqui um assunto de vez sobre as malditas consequências que um adulto sofre por causa do abuso sexual. Acho que fica até mais fácil para a compreensão desse mal.
Agora vou dormir mais um pouco, pois acordei como sempre cedo e sinto-me cansada por dormir pouco. Vou aproveitar que estou sozinha e tentar descansar (apesar de que hoje de madrugada já fiz muitas coisas). Mas é melhor assim: fazer e me sentir bem, sentir que consigo.
B.A

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

14.02.2015

São 4 horas da manhã...acordei às 3. Todos os dias tem sido assim: um dos remédios está provocando arritmia e acordo me sentindo mal. Fico me revirando na cama e pensando. Então resolvi escrever e não pensar sem propósito algum. 
Estou, aos poucos, me acostumando aos remédios. O melhor de todos são para a tireoide que tomo de manhã. Estou bem mais ativa e quase sem crises de ansiedade. Tenho feito mais coisas e sinto menos fadiga. Aprendi a "driblar" a forte dor de cabeça que o remédio para os rins estava causando. Percebi que se comer alguma coisa no almoço e tomar o remédio e depois comer mais um pouco, a dor de cabeça não aparece. O único problema é o remédio da noite para o colesterol. Acordo de madrugada com forte taquicardia (porém sem crise de ansiedade), dor na nuca e não consigo dormir mais. Normalmente tento ficar deitada (tenho levantado bem cedo) para o corpo descansar. Mas hoje resolvi escrever, pois os pensamentos negativos estavam aflorando e não desejo isso. Também, aos poucos, o apetite está voltando e estou desinchando. Estou comendo aos poucos, principalmente danoninho e papinha para bebes. Parece que não é nada, mas já estou conseguindo comer mais no almoço. E para melhorar, ontem peguei os óculos e estou maravilhada com a diferença. Agora uso um deles para leitura e computador, sem forçar a vista. Com todas essas melhoras voltei a ficar mais participativa na comunidade em geral e fico contente por isso.
Ontem chorei muito por causa da minha filha. Ela tem um problema no joelho e talvez precise operar. Como ela está forçando muito a perna (andando demais), esses dias está com forte dor e ontem me ligou chorando. Ela já teve que desistir da Faculdade de Dança por causa do joelho. Fiquei frustrada de não poder estar com ela...de cuidar dela...fazer carinho. Mãe é mãe!!! À noite, chorei de saudade e de preocupação. Desde que ela saiu de casa é a primeira vez que tenho esse tipo de sentimento. Por um lado deixei bem claro que essa casa era dela também e que ela não precisa provar nada a ninguém...pois já é uma vitoriosa. E por outro lado, como sempre criei os meus filhos para o mundo e para que eles fossem o que são por opção e não por falta de, sei que preciso ser mais dura...tentar anima-la, já que essa escolha partiu dela. Não quero ela desistindo perante dificuldades. Como é difícil ficar dividida entre os sentimentos!!! Meu ex marido chega amanhã para o feriado e vai ficar quatro dias. Então ela vai ficar sozinha, já que tem que trabalhar. Bem...o meu coração está pequeno...apertado. E, ao mesmo tempo sei que preciso dar os conselhos certos para que ela progrida na sua evolução como pessoa. Mas que é duro, é.
Estou muito ansiosa com a entrevista que deve sair brevemente no programa da TV. Durante as duas últimas semanas o tema foi estupro e agora deve passar para o abuso sexual. Quando digo abuso sexual, o mesmo envolve molestamento...pedofilia...abuso...estupro e forte violência psicológica. É diferente do estupro comum, que geralmente ocorre uma única vez, seguido ou não de tortura e morte. Mas não é menos cruel. Ninguém pede por isso e ninguém merece passar por essa situação. E muito menos vivenciar as consequências que esses tipos de violência provocam...Não é fácil, principalmente quando envolve gravidez indesejada ou doenças ou morte. Mas o que fazer...como lutar? Criar leis não adianta, pois não passam do papel. Além disso, o abuso sexual infrafamiliar na maioria das vezes não é divulgado pela família. Então, só nos resta a união das vítimas e ajudarmos uns aos outros trocando experiências e pequenas vitórias.
B.A

sábado, 7 de fevereiro de 2015

08.02.2015

Acordei de madrugada com um pesadelo e não consegui dormir mais...a ansiedade me dominou completamente. É incrível como a insonia acaba com a gente!!! Peguei os resultados e não foram muito bons. Eu esperava que fossem melhores. Os rins estão trabalhando muito devagar...o fígado está aumentado por causa dos analgésicos que tanto tomei...problemas com tireoide (pela primeira vez)...o colesterol lá em cima. O problema do colesterol o médico definiu como 80% hereditário e 20 % sedentarismo. Mais uma herança do meu pai. Estou tomando 3 remédios fortes e o remédio para os rins acaba comigo (efeitos colaterais). Porém o que notei é que a minha alergia diminui bastante depois que comecei a tomar os remédios. Agora preciso me cuidar e, principalmente, voltar a comer. 
Na entrevista para TV houve uma pergunta que mexeu comigo, pois eu algumas vezes a fiz para mim mesma: como seria a minha vida caso não houvesse abuso? Acredito que todos que passaram por algum tipo de violência fazem essa pergunta. E mais uma vez digo que a violência emocional é muito pior que o abuso físico. Alias, é essa conclusão a que estão chegando os médicos e os psiquiatras. Finalmente. A vítima precisa ser vista sob todos os aspectos e ter acompanhamento psicológico desde o início (o que ainda não acontece). É lógico que a minha vida seria diferente...100% melhor...e mais produtiva. Precisei "arquivar" alguns dos sonhos e sei que não vou poder realiza-los. Tento ser realista o máximo possível, para não viver de mãos dadas com ilusão e expectativas. Outra coisa que não só percebi...como muitos perguntam: por que aguentei por tanto tempo? Sei que as pessoas não compreendem, mas somente aquele que vivencia a situação sabe dos seus limites. Eu vivia aterrorizada...tinha pavor do meu pai. E por causa do imenso medo, vivia anestesiada. Eu tentava lutar porém perdia todas as tentativas. E ainda havia o fato de querer proteger a minha irmã. Então não conseguia reagir. Quando vc tem uma mãe totalmente omissa e que te agride verbalmente o tempo todo, fica difícil ter uma margem para alguma reação. Assim mesmo, comparando com vários relatos dos sobreviventes da violência, eu ainda apresento uma certa vantagem. E é isso que me compele a continuar lutando.
Semana que vem espero que meu organismo se adapte aos remédios...que meus óculos fiquem prontos logo e assim poderei voltar para a comunidade que está quase totalmente abandonada. Apesar do desanimo que constantemente toma conta de mim, mantenho a esperança.
B.A


domingo, 1 de fevereiro de 2015

01.02.2015

O mês de janeiro se foi e foram muitos dias sem escrever. Infelizmente minha alergia se espalhou pelo corpo todo e mais outras coisas. Terça feira vou buscar os resultados dos exames e espero que não seja nada grave. Dia 29 fui ao oculista. Apareceu a miopia (bem fraca, mas ao ponto de causar a dor de cabeça). Nunca tive miopia. O astigmatismo aumentou e preciso fazer dois óculos. É a idade chegando (ou já chegou)...rs...
Terça passada dei uma entrevista para um programa. Foi a primeira vez e o ataque de ansiedade acabou comigo. Fiquei de cama na segunda, terça e quarta. Foram mais de 2 horas de entrevista por telefone e depois mais de 2 horas de gravação. Não me senti à vontade comigo mesma. Não por causa do tema em si, mas por mim...minha baixa estima e as malditas fobias. Concordei em falar para mostrar a importância da sociedade perceber como as consequências são para a vida toda. O programa é sério e o jornalista / apresentador é um dos meus preferidos.
A repórter e os auxiliares foram super educados...ela a toda hora preocupada se as lembranças estavam mexendo muito comigo. Estavam é lógico, principalmente porque nunca penso no abuso sofrido...não alimento esse mal dentro de mim. Porém a entrevista me fez refletir sobre várias coisas e elas são doloridas. Quando perguntou o que ainda me fazia chorar, respondi que foi a rejeição e a omissão da minha mãe. Mais do que o abuso. Ela pediu definir os meus sentimentos em uma palavra e eu defini: angustia. Outra coisa que mexeu muito comigo foi relembrar as humilhações que sofri por 5 anos, em plena adolescência. Isso, quando lembro, ainda me faz chorar. Como percebi, o que mais acabou comigo foram as consequências do abuso sexual e não o abuso em si. Estive muito calma durante a entrevista. Devo ter passado uma imagem de uma pessoa fria...mas não sou. Só aprendi a controlar os sentimentos e é claro que há muita coisa que ainda me faz chorar. 
Minha filha foi comigo. Ela passou segunda e terça aqui e foi muito bom. Ainda não me conformo com certas escolhas dela, mas criei os meus filhos para o mundo e se ela está feliz...só me resta ficar feliz também. Dia 5 ela começa a trabalhar e hoje está indo a um encontro de escritores jovens. Ela está saindo de casa...fazendo amizades. E para uma mãe isso é importante, pois aqui ela não saía de casa.
Eu e o meu filho estamos nos dando super bem. Ele fez novas amizades e retomou a amizade com um amigo do passado, do qual gosto muito. Conheço a família dele e sei que as preocupações da mãe não diferem muito das minhas. Meu filho tem cuidado muito de mim, amadureceu muito. E eu tento lhe dar mais uma chance de não se envolver com as pessoas erradas. É lógico que ainda mantenho um controle rígido, mas percebi que ele até gosta. Terça começam as aulas dele do EJA. Não foi fácil conseguir a matrícula e espero que ele tenha a responsabilidade de frequentar as aulas. O colégio não é perto, mas tem ônibus a meio quarteirão de casa que o deixa a quatro quarterões da escola. E na volta o mesmo ônibus passa em frente ao colégio e o deixa a dois quarterões de casa. Ele vai estudar à noite. Só espero, sinceramente, que dessa vez ele aproveite a oportunidade.
Após o carnaval minha filha vai pegar o diploma dela na Secretaria de Educação. Ela apostou alto para terminar o Ensino Médio através do exame do Enem e foi vitoriosa. E se o sonho dela é ser escritora, espero que ela perceba a importância de um curso complementar (faculdade). Ela não quis fazer o curso de jornalismo aqui, mas precisa ter uma base sólida para escrever, como os cursos de história ou filosofia. Espero que ela não desista desse intento...
Fiquei sozinha o final de semana todo e senti muita tristeza e solidão. Queria ter amigos reais...sair...bater um papo. Dessa vez a solidão pesou demais.
Ainda não acabei de escrever o texto, pois o fato de digitar provoca dores musculares nos braços. Mal tenho entrado na internet e na comunidade. Vamos ver como será essa semana. Os resultados...o colégio do filho...o trabalho da filha. Quem sabe a alergia não está sendo causada pelo emocional e se der tudo certo, ela poderá diminuir.
B.A