domingo, 30 de novembro de 2014

01.12.2014

Após o desabafo de ontem, no início senti um certo alívio. O problema é que quando escrevo, afloram um monte de lembranças e pensamentos. E não consigo colocar todos aqui, por vergonha. Eu estava escrevendo e não parava de refletir. Logo após escrever minha mãe ligou da praia e tivemos uma discussão. Aproveitei que estava sob efeito dos pensamentos e reflexões e disse a ela um montão de coisas. Sei que ela sabe que falei a verdade e é claro que a reação dela foi ser agressiva. Educadamente e friamente avisei que ia desligar, já que não tínhamos como continuar a conversa. À noite ela ligou mais duas vezes, mas não atendi. E pretendo fazer um grande favor a mim mesma, não atendendo os telefonemas dela (pelo menos por hoje).
Porém logo em seguida tive uma forte crise de choro que durou mais de 3 horas. Ultimamente ando triste e muitas vezes lágrimas vêm aos olhos...porém não uma crise de choro tão forte. Chorei não por pena de mim, mas sim por raiva. Raiva de ter deixado toda essa situação chegar a esse ponto. Raiva (de mim mesma) por não ter reagido, por ter deixado ser humilhada. Por permitir o abuso emocional e o assédio moral sem reagir. Por parte dos meus pais, minha irmã, família e amigos do meu pai, família do meu marido e até meu marido. Não estou a fim de contar os detalhes...é melhor deixar pra lá. Mas a dor e a mágoa que senti ontem foram fortes. Sei que vou superar e somente depende de mim para que isso não aconteça mais.
Como consequência tive muita dor de cabeça. Deitei cedo sob efeito do Rivotril e tive pesadelos todo o tempo que dormi. Não consigo dormir direto...é sempre entrecortado. Mas hoje pretendo ficar deitada...lendo ou jogando minhas paciência no netbook. Como ele é pequeno, posso jogar na cama mesmo. Preciso me recobrar do dia de ontem para amanhã não ficar inativa. E preciso trabalhar mais as minhas emoções. O diário ajuda 90%, mas devo aprender a não sentir vergonha de certas coisas, de certos erros...
Ontem minha filha voltou "quebrada" e toda tensa após o vestibular da FUVEST. Disse que foi muito mal e que não deve passar para a segunda fase. Expliquei mais uma vez que milhares querem ingressar na USP e se matam de estudar, coisa que ela não fez. E se o sonho dela é estudar na USP, que no ano que vem ela comece e levar os estudos mais a sério e com responsabilidade. Falei calmamente e com carinho e ela sabe que só depende dela mesma.
Essa semana vou reler o diário desde o começo. Eu pretendia fazer isso a cada mês para sentir como estavam as minhas emoções e se consegui progredir. Mas acontece que não consigo reler os textos que escrevo...nem mesmo os depoimentos e nem o depoimento de ninguém. Só que abri esse diário com intuito de tentar entender minhas emoções...reações...de tentar ME entender. E ontem, enquanto estava escrevendo, minha vida passou por mim e senti muita dor...raiva e frustração. Preciso trabalhar isso, mas agora...nesse momento, não sei como.
B.A

30.11.2014

Estou acordada desde madrugada. Minha filha dormiu 14 horas seguidas de ontem para hoje. Eu e meu filho não. Meu filho foi dormir faz pouco tempo e eu fiquei descansando...ora adormecendo por uma hora...ora totalmente acordada, mas deitada. Eu tinha que ver se o meu filho estava se alimentando e, ontem de manhã fui ao supermercado. Achei que fosse desmaiar, já que anteontem não consegui comer quase nada (e ontem também). Assim mesmo fiquei feliz em ir fazer compras. É uma coisa mínima, porém para mim é uma grande vitória...Hoje, ao levantar, fiz força para comer mesmo sendo madrugada e agora não sinto mais nenhum mal estar.
Hoje é o último exame da minha filha (vestibular para USP) e o mais importante para ela. O chato é que a nossa ansiedade só vai cessar quando sair o resultado do ENEM. Não adianta passar no vestibular e não ter concluído o Ensino Médio. Mas de tudo na vida devemos tirar uma lição e espero que minha filha tenha entendido a dela.
Essa semana agora ainda vai ser "cheia". Amanhã pretendo descansar sem tentar me preocupar com nada. Na terça vou levar o meu filho para ver um emprego. Na quarta ou quinta vou cuidar um pouco do meu exterior: cortar e pintar o cabelo...fazer unha. Cuido de mim somente umas duas vezes por ano. Me desprezo tanto que acabo nem ligando para a minha aparência. E a minha mãe fez um ótimo trabalho ao dizer sempre o quanto sou feia (desde a adolescência), incutindo em mim baixa estima desde aquele tempo. Mas acabei "me largando" mesmo ao chegar de Porto Velho...Na sexta tenho médico.
Sexta feira foi o meu último dia de aula. Não vou continuar o ano que vem com ela, pois acabei descobrindo a falcatrua que estavam fazendo e não vou participar disso. Nem vou falar nada, mas é grave e meu ex marido vai consultar um advogado, já que podemos pagar caro por essas aulas através do Imposto de Renda. É inacreditável o que as pessoas são capazes (sem precisar) fazer por dinheiro. Odeio a ganancia. Mas pretendo tentar trabalhar o ano que vem. Não depender totalmente do meu ex marido é bom. 
Ontem retirei amizade no face de uma pessoa. E avisei o porquê. Ele ficou despeitado e respondeu, mas fiquei quieta. Deixa pra lá!!! Estou aprendendo tirar pessoas nocivas da minha vida. Ele foi a segunda pessoa que se aproveitou da minha amizade e não soube retribuir quando mais precisei. E ainda escreveu um discurso de como deve ser uma amizade. O ponto de vista dele não serviu para mim...O outro que fez a mesma coisa tem o mesmo nome desse, preciso tomar mais cuidado com os homens que carregam esse nome...rs...(brincadeirinha, o nome nada tem haver com o caráter). Por outro lado há pessoas maravilhosas que estão me ajudando. Até mesmo novos amigos. E sei que também há muita gente torcendo pela minha melhora e pelo meu trabalho. É nessas pessoas que preciso me focar. 
Uns minutos atrás minha filha me mostrou pelo celular a foto da minha irmã e seu marido com a certidão de casamento. Casaram-se na sexta...somente no cartório...e sem a presença dos familiares. E é lógico que nem fui avisada. Se estou triste? Sim. Não por não ter sido avisada, por escolha dela não fazemos parte da vida uma da outra faz mais de dez anos. Estou triste por situação ter chegado a esse ponto. Tenho muita pena dela. Por ser tão egocêntrica e ignorante...por tentar sempre levar vantagem. Nunca aceitou o fato de eu ter sofrido o abuso do meu pai e para protege-la. Joguei parte da minha vida fora por ela, uma pessoa que não vale a pena. Graças a mim ela teve de tudo...do bom e do melhor...financeiramente e emocionalmente. E depois que briguei com os meus pais, aproveitou-se ao máximo da situação. Ela não consegue entender que tudo que ela tem na vida foi por eu ter cedido à chantagem do meu pai e ir pra cama com ele...desistir de tanta coisa...para ele deixa-la em paz. Do jeito que ela é, não sei se conseguiria sobreviver ao abuso. E o pior é que não consigo entender o porquê de tanto ódio e rancor da parte dela. Talvez porque na realidade ela seja uma pessoa infeliz...Muitas vezes me pergunto se tivesse uma chance de voltar no tempo, faria por ela o sacrifício. E a resposta é sim. Por mais que ela me despreze (e eu a desprezo também) hoje em dia, considero que ninguém merece passar pela uma violência física e emocional tão brutal. Ela não mereceu eu ter dado boa parte da minha vida para que tivesse a dela, mas também não pediu o meu sacrifício...ela não sabia. Só achei que após saber o que aconteceu, ficaríamos mais unidas. Me enganei...Que ela seja feliz nas suas escolhas e na sua vida...pois colhemos apenas aquilo que plantamos...sem mais ou menos.
A coisa boa é que procuro, aos poucos, com esses desabafos enterrar um pouco o meu passado. E também não estou permitindo mais que as pessoas me usem ou me magoem sem razão. Vai chegar um dia que vou voltar a me olhar no espelho sem sentir vergonha...vou me valorizar mais...vou me amar e respeitar. E quando esse tempo chegar, tenho certeza que junto virá a paz e a alegria de viver.
B.A

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

26.11.2014

Mais uma vez estou aqui para a minha "terapia semanal". Ainda estou sentindo muita ansiedade, porém estou conseguindo controlar a mesma. Só não consigo controlar o transtorno alimentar e de sono. Não tenho conseguido comer quase nada e estou dormindo muito pouco. Mas, pelo menos, estou menos irritada. Estamos vivendo dias de paz aqui em casa. Continuo com uma alergia cada vez mais feia e dia cinco de dezembro vou ao médico para começar a tratar da minha saúde física, com a qual sou extremamente negligente.
Minha tristeza continua e está se transformando novamente em depressão. 
Confirmei que foi de fato a minha mãe que "fez o favor" de eu perder as aulas. Não estou chateada por causa do dinheiro...mas sim pelo fato dela continuar querendo sempre me atrapalhar, não deixando a gente em paz. Até hoje não consigo entender toda essa raiva que ela sente por mim. Sempre tentando me rebaixar perante os outros. Sempre sendo maldosa e agressiva. Uma mulher aos quase 75 anos. Parece coisa de novela...mas é muito pior e triste. Ela me culpa por eu ter sofrido abuso, por ter sido a sua "rival", mas foi totalmente omissa durante os longos anos da minha aflição. E depois negou o fato, mesmo sabendo que era verdade. Foi capaz de me prejudicar e de me lesar financeiramente. Nunca vou entender isso, pois sou mãe. Vejo muitas vezes as mães sendo omissas...negligentes e acho um horror. Então lembro que a minha também foi e é...
Esses últimos dias estamos vivendo num verdadeiro caos. Minha filha está prestando exames e anda ansiosa, sem comer e dormir direito. E eu embarco junto nessa situação. Até o meu filho, que tinha conseguido colocar os horários em dia, voltou a não ter hora para nada. Essa situação é penosa e triste, Minha filha passou no curso de Jornalismo aqui em Ribeirão, numa faculdade tradicional daqui. Hoje íamos fazer a matrícula, mas diante das mensalidades salgadas, ela não quis. Como podemos matricula-la sem saber se ela vai conseguir a nota do ENEM para terminar o ensino médio (ela prestou uma prova especial)? Fiquei frustrada com a situação e acredito que ela também. Conseguiu uma boa colocação no vestibular. Ontem conversei com ela e disse o quanto estou orgulhosa. Foi uma vitória e pedi que ela sempre se lembrasse de quanto é capaz. De que eu sempre estarei ao seu lado, tentado ajuda-la a voltar para o caminho certo (e ao meu filho também). 
Nas horas de insonia fico quebrando a cabeça...tentando descobrir onde foi que errei. Em qual momento perdi os dois, que seguiram por um outro caminho, e por que. Sempre fui uma mãe super dedicada. Abri mão dos meus sonhos para investir na maternidade. Sempre investi na educação e cultura. Eles eram os melhores alunos sem nós fazermos qualquer tipo de exigência ou cobrança. E a quatro anos atrás escaparam por entre os meus dedos e não consigo encontrar um motivo. Mas, principalmente, sempre dei muito amor e carinho. Fui rígida, até mesmo pela educação que recebi e pela situação de violência que vivi. Amo os meus filhos acima de tudo e incondicionalmente. E devo dizer que o meu ex marido foi e é um excelente pai. Então o que aconteceu? Tento, de todas as maneiras, encontrar uma resposta...uma pista, mas não consigo...
A única coisa que sei que infelizmente eles também foram privados de muita coisa na vida por causa do abuso que sofri. Também perderam muito, mesmo com a gente tentando amenizar a violência emocional praticada pelo meu pai e, depois, pela minha mãe. Não é somente o abusado sexualmente quem sofre. Os que estão ao seu redor e o amam são também alcançados por essa onda de crueldade. E agora os meus filhos sofrem as consequências do abuso que EU sofri e não consigo ajuda-los. Estou triste...muito triste e sem esperanças. Uma parte de mim morreu por dentro, já que me sinto culpada pela infelicidade deles. Sei que a única coisa que posso e devo fazer é continuar amando-os incondicionalmente e tentar ajuda-los a recuperar o tempo perdido e voltar ao seus caminhos. Brigamos sim...porém o amor é sempre mais forte. Que fique registrado aqui o sofrimento dos filhos de quem sofre algum tipo de violência.
O despertador tocou, avisando que devo me aprontar para ir dar aula. Está chovendo e o tempo está agradável. Está chovendo também em mim, através das minhas lágrimas e do aperto no coração que sinto nesse momento...
B.A


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

19.11.2014

Após escrever na segunda, consegui a paz que buscava. É incrível ver e sentir o que o ato de escrever...de desabafar pode proporcionar!!! Porém não consegui controlar a crise de ansiedade e nem me alimentar direito. O clima em casa está bem mais ameno, quase sem discussões nesses dois dias. Isso é bom. Ainda bem que nunca fui e não sou uma pessoa rancorosa. Por isso, após desabafar, colocar para fora as minhas frustrações, acabo relevando e perdoando. Assim, não fico remoendo dentro de mim, as mágoas.
Porém estou preocupada com a tristeza imensa que sinto. Meus olhos enchem de lágrimas, choro (mas não deixo ninguém perceber) e não sei a razão. Não estou me sentindo deprimida, somente muito triste. Talvez seja falta de dormir e má alimentação.
Ontem passei por mais uma prova. Minha aluna comunicou-me que vai encerrar as aulas semana que vem. Ela deu explicação de controle financeiro...que estavam gastando muito...queriam juntar um dinheiro. Porém quem me paga não são eles e sim a firma do marido dela. Achei muito estranho...não entendi como eles iriam economizar comigo...mas fiquei quieta. É claro que fiquei chateada. Vou deixar de ganhar um bom dinheiro em dezembro e janeiro. Disse ela que em fevereiro voltava, mas acho que não. Contava com esse trabalho para me ajudar a ficar mais independente financeiramente. Quando contei aqui em casa, a primeira coisa que minha filha comentou que foi coisa da minha mãe. Como ela está doente, telefonei e comentei o fato. Ela achou muito natural. Então a minha ficha caiu!!! Ela ficou muito amiga do casal, que tem a minha idade e poderiam ser seus filhos. Ela está sempre saindo com eles e nunca me convida. Seria típico dela falar alguma coisa desse tipo: "você está falando bem, está se virando melhor ainda. Não precisa mais de aulas." Não seria a primeira vez e minha mãe tem tendencia de afastar as pessoas de mim. Segundo minha filha é pura inveja, pois sou altamente dedicada e sei os grandes progressos que a minha aluna fez. Só que as pessoas não imaginam como é duro para alguém que sofre de depressão e de crises de ansiedade, preparar as aulas, levantar da cama e dar essas aulas. Posso ter faltado algumas vezes, mas sempre compensei nas aulas seguintes. Estou com o meu coração pesado. Posso me desvalorizar em muitas coisas / situações, mas sempre fui uma excelente professora e sempre trabalhei (em outros lugares) com muito afinco, alcançando em pouco tempo cargos altos e sucesso e reconhecimento. Mas é como eu sempre digo: não adianta chorar sobre o leite derramado. Uma porta se fechou...com certeza outra vai ser aberta. E eu quero muito voltar a trabalhar.
E é lógico que não consegui dormir essa noite. Quando estava quase adormecendo, meu filho apareceu chorando. Ele tem muitos pesadelos. Minha filha, que também ainda não havia dormido, começou a discutir com ele por ele me incomodar. Coloquei ele na minha cama, tentei relaxar e nada. Então levantei, estou escrevendo agora, depois vou tomar uma ducha fria e ir dar minha aula. Na volta, pretendo tentar descansar. Sinto-me esgotada tanto fisicamente como emocionalmente, mas tenho uma paciência infinita em relação ao sono dos meus filhos. Talvez por privações de sono que passei por tanto tempo. Vivo o dia de hoje...amanhã será um outro dia. A única coisa chata é que o cansaço me afastou da internet. Quem sabe descansando em dezembro, conseguirei voltar com mais força...
B.A

domingo, 16 de novembro de 2014

17.11.2014

Meu final de semana foi péssimo. Meu ex marido já chegou de má vontade na sexta e assim foi até hoje de manhã. Ontem deu a maior briga entre nós...as crianças. Eu fiquei possessa. Não vou mais tolerar de ninguém despeito. Cansei!!! Também coloquei muita mágoa para fora e foi bom. Só que agora (cinco da manhã) ainda não dormi e ontem só comi um prato pequeno de comida. O nervoso desses dias foi tanto que estou tendo muita dor de estomago...só espero que não seja gastrite nervosa. E é claro que estou sem condições de dar aula hoje...minha ansiedade está lá em cima!!!
Não achei justo ter que passar por tanta aflição e mágoa. Não depois de tudo que aguentei todos esses anos. Meu ex marido foi omisso. Meus filhos se aproveitaram da situação e foram cruéis. A única coisa que desejo é deitar e ficar quietinha. Mas nem isso eu consigo...só espero que após escrever, meu coração se acalme e eu tenha um pouco de paz.
A pior coisa é ter crise de ansiedade. A gente não come...não dorme...não tem vontade de nada. E ainda somos culpados por uma situação que não criamos. Acabei praticando automutilação terrível no dedo, que está super inchado e dolorido. Também tirei pele dos lábios e agora eles estão muito sensíveis. Estou com várias alergias pelo corpo e sei que é de nervoso.
O mais sensato que tenho a fazer é manter o controle e tentar modificar certas situações. Preciso recobrar minha fé e aprender a ter fé em mim mesma...gostar e me respeitar mais. Se eu conseguir me valorizar e ver o quanto fui forte, principalmente na época do abuso, sei que vou ver que posso voltar a ser forte e lutar pelas minhas coisas e pela minha felicidade. Aos poucos, deixar de sobreviver, e passar a viver. Infelizmente não posso contar com ninguém. Eu nunca senti tanta solidão na minha vida...
O único remédio é reagir...reagir...e reagir.
B.A

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

12.11.2014

Ontem escrevi um pouco sobre as comunidades. Não quis dar "nome aos bois" e nem citar ninguém. Não é do meu feitio. Foi bom escrever o que penso...a minha opinião. Assim não fico remoendo por dentro e coloco mais um ponto final naquilo que estava me incomodando. Como já fui deturpada várias vezes, toda vez que coloco minha opinião ou comentário...assino. Assim, é uma garantia para mim. Já "peguei" 3 loucas e sei o estrago que podem fazer. E só não processei uma porque a considero muito doente no campo emocional. Mas agora vou lutar pela minha causa com mais força. A Comunidade "Filhas do Silêncio" tem por objetivo ajudar abusados sexualmente mais velhos (na faixa de 40 a 50 anos) e quero mostrar como é difícil para nós sobreviver. Há muita ajuda para as crianças / adolescentes...mas nós crescemos e merecemos a chance de viver, a chance de recuperação. Como na nossa época o assunto sexo...abuso era tabu, precisamos ficar em silêncio, sofrendo não somente a violência física, mais principalmente a psicológica. E é essa que deixa as marcas profundas, enraizadas no nosso ser, na nossa mente...nos deixando doentes e apáticos. Praticamos auto mutilação, temos transtornos alimentares e de sono, crises fortes de ansiedade. Precisamos de ajuda, mas onde buscar essa ajuda? Muitos não querem nem ouvir sobre nós...sobre o que passamos. Acham feio!!! Feio é a violência que sofremos. Viver constantemente em depressão é feio. Não conseguir trabalhar é feio. Não cuidar da casa é feio. Se achar um lixo é feio. Não sair de casa por anos é feio. Isso não é viver. No máximo, sobreviver. E é por isso que decidi que esse diário vai ser o meu porta voz. Porta voz de uma sobrevivente que tenta lutar, mas mal consegue. Quero que as pessoas saibam como é ser uma sobrevivente da pedofilia...molestamento...abuso sexual...estupro...e uma violência emocional cruel praticada pelo pai, mãe e irmã. Que as pessoas possam ver como é difícil levantar da cama, se alimentar um pouco e fazer as coisas do dia a dia.
O engraçado é que quando se trata de pedofilia ou estupro, as pessoas não acham feio...
Então escreverei um pouco sobre as minhas vitórias e derrotas. E com esses desabafos espero conseguir o que nunca consegui numa terapia: me perdoar...me valorizar...e me amar.
B.A

terça-feira, 11 de novembro de 2014

11.11.2014

Finalmente consegui um tempo para escrever. Senti falta, porém esses dias foram um caos. Minha filha está prestando vários exames...ela fica ansiosa...não dorme...e passou a ansiedade para mim. Não como...nem durmo...e estou tomando Rivotril demais. Tento controlar a ansiedade, mas nem sempre consigo. Não estou conseguindo dar aula...arrumar a casa...fazer outras coisas, o que é altamente frustrante. Crises fortíssimas de ansiedade é uma outra consequência do abuso sexual...
Tenho mudado um pouco a comunidade "Filhas do Silêncio". O grupo fechado só está aberto para eu postar e vai continuar assim. Também sou a única administradora, já que a minha confiança foi traída. Aos poucos estou reativando o grupo secreto (formado somente por mulheres abusadas). A página está indo bem. E semana passada reativei o perfil da Bya Albuquerque. Esse perfil servia somente para armazenar postagens, mas muita gente pedia amizade e eu resolvi reativar. Achei que seria perfil pequeno, mas uma das amigas é jornalista e ela me ajudou muito, indicando o perfil para outros jornalistas. Em uma semana já estou com 200 pessoas, mas não pretendo pedir mais amizades...o que terá de ser, será. Eu tinha 3 perfis da Bya. Dois deles lotados e um estava no começo. Porém foi quando comecei a ter sérios problemas de saúde e de coração, então precisei reduzir minhas atividades na comunidade. Hoje em dia estou dando um tempo nos dois blogs, somente mantenho esse. Aos poucos e devagar vou fazendo o meu trabalho.
Fico atônita de ver como certas comunidades são egoístas e seus administradores são egocêntricos!!! Sempre achei que uma causa não precisava de egos...competição. Mas me enganei. Há comunidades que pensam que nem eu. Outras só se preocupam com seu sucesso, colocando nome da sua comunidade em postagens cuja a figura está na internet...fazendo bottons e etc. Acho isso muito feio. Eu compartilho postagens de várias comunidades e com isso aumento o círculo de divulgação da nossa causa. Poderia também fazer o que fazem, mas não quis. Quando me ofereceram para colocar o nome da minha comunidade em tudo qualquer coisa, não aceitei. Como já disse: não importa quem está por trás da causa...o que importa é o objetivo. Tem uma comunidade que inclusive não permite que suas postagens sejam compartilhadas. É uma pena, pois são ótimas postagens e divulgaria a sua causa, que é bem diferente da minha. Pior somente são aquelas que colocam postagens sensacionalistas!!! De que adianta saber que um menino de 3 anos foi estuprado pelo padrasto e o mesmo foi linchado??? Parecem aqueles jornais de antigamente. Não acrescenta nada a nossa causa, pois devemos divulgar coisas importantes, como sintomas...o que fazer...as consequências. Essas comunidades são altamente curtidas, mas não pela causa em si, e sim por curiosidade mórbida, a mesma que permitia a venda de certos jornais e permite a audiência de certos programas. E é por isso que não aceito dar entrevista para certas revistas e nem aceito convite para TV. Prefiro fazer meu trabalho sozinha...devagar. Tenho recebido bons resultados e isso já é muito para mim. O menos é mais!!! Como podem ter pessoas querendo sua projeção a custa de dor e lágrimas??? Não consigo entender e acho simplesmente nojento...
Mudando de assunto, escrever fez falta. Somente aqui consigo expor os meus sentimentos...meus anseios...minhas faltas...meus sonhos. Continuo cuidando mal de mim mesma: não como...não durmo direito...e estou tomando muitos analgésicos e cerveja. Todos os dias prometo a mim mesma melhorar, mas sou fraca e isso deixa-me angustiada e ansiosa.
Continuo tendo sonhos intensos nas poucas horas que durmo. Acordo com a musculatura travada e dor de cabeça. Nessas duas horas de sono diário vivo uma vida intensa e desagradável. Algumas vezes sonho com umas pessoas que já foram importantes para mim, mas desde que escrevi sobre essas pessoas...quando sonho com elas...não sinto mais nenhum tipo de emoção. Considero isso um grande avanço para minha vida emocional.
Esse diário é a minha terapia. Não me importa quem lê e o que acham. Importa eu colocar para fora aquilo que guardei a vida toda somente para mim e nem para terapeutas consegui compartilhar. E se quem lê (eu não peço para lerem) não gostam...sinto muito. Não vou deixar de escrever.
B. A













terça-feira, 4 de novembro de 2014

04.11.2014

O intenso calor não permitiu que eu escrevesse durante um tempinho (e o cansaço também). As coisas não saem da mesmice. Sempre lutando contra mim e a family. Eu queria estar mais ativa, mais determinada. E tenho que ficar atrás das coisas dos meus filhos. É incrível como na idade deles, abusada constantemente, eu já cuidava das minhas coisas e da minha vida. Mas ontem fiquei que nem louca fazendo por eles o que eles mesmo deveriam fazer. Nesse final de semana minha filha prestará o ENEM. O dela é especial, para zerar as matérias que faltam para acabar o colegial. E até ontem, ela não teve o interesse de ver o local. Pressionada por mim e pelo pai é que viu. Agora ela deve imprimir o boleto do pagamento, porém não temos uma impressora. Então ela deveria gravar no pen drive e levar a um lugar para imprimir. Aqui em casa devemos ter mais de dez, inclusive dois surrupiados por eles de mim. E eis que não há mais nenhum!!! Quanta irresponsabilidade...sem comentários. O triste é que ela abandonou a escola novamente e eu tenho certeza que não vai conseguir pontuação necessária para zerar as matérias que faltam. É o mais triste é que tenho certeza que ela irá entrar na USP (é a que ela mais quer). Até quando ela não vai perceber que é preciso SIM estudar e o desperdício de tempo da sua vida...
Ontem fui fazer inscrição do meu filho numa das melhores escolas daqui para cursar EJA. E ele não queria ir junto...queria dormir. Também sem comentários...
Estou muito cansada porque não durmo quase nada. O fato de não dormir provoca o distúrbio alimentar. Minha médica passou um remédio fortíssimo (e caro): dormonid. É usado em casos de insônia extrema. Mas não consigo comprar porque está em falta. Espero conseguir comprar logo, apesar de ter certeza que já usei esse remédio e sem sucesso. Como faz muito tempo que não faço uso de remédios para dormir, mantenho uma grande esperança de que funcione.
A insônia, para mim, é a pior consequência do abuso sexual. Quando você não dorme, não consegue produzir. Não consegue se alimentar. Mal consegue viver. Comecei a ter insonia aos 15 anos. Antes, desde os 11, eu já não conseguia dormir bem, porém aos 15 é que ela se instalou com força total. Foi na época em que mudamos daqui para cidade mais perto do trabalho do meu pai e em vez dele vir a cada 15 dias, vinha todas as noites. Foi quando o abuso se intensificou. Final de semana "livre"...E foi quando também ele passou a me torturar com a privação de sono. Sábado e domingo eu não podia dormir à vontade. Ele me acordava cedo para ir à praia ou fazer outras coisas. Mesmo quando estava chovendo. Eu poderia dormir à tarde durante a semana, mas não conseguia de tanta depressão e tristeza.
Uma outra tortura praticada pelo meu pai (até hoje eu não entendo porque ele me atormentava desse jeito...) era não deixar eu tomar banho morno ou quente. Ele deu a ordem para que eu tomasse o banho somente após a sua chegada do trabalho, para poder fiscalizar. Quando não dormimos ou comemos direito, perdemos muito calor e sentimos um imenso frio. E eu não podia demonstrar o frio que estava sentindo, porque era frescura. Todos podiam tomar banho quente...menos eu. Todos podiam dormir, descansar...eu não. Vai entender a mente de um psicopata!!!
Dormi mal essa noite e vou tentar relaxar, pois mais tarde preciso preparar a aula que darei amanhã.
B.A