terça-feira, 30 de setembro de 2014

Reportagem da REVISTA CATEDRAL / Francielly Martins Zaluski

É INCRÍVEL COMO UMA REVISTA CATÓLICA PODE FAZER DIFERENÇA, SEM SER PARCIAL E SEM TABUS. E PRINCIPALMENTE SEM OMISSÃO SOCIAL. EU JÁ FUI CONVIDADA PARA VÁRIOS PROGRAMAS DE TV E VÁRIAS ENTREVISTAS, PORÉM CONCORDEI EM DAR SOMENTE UMA, PARA A REVISTA ISTO É, ATRAVÉS DA QUAL CONHECI PESSOAS INCRÍVEIS. FRANCIELLY ME PROCUROU PEDINDO PARA USAR ALGUNS DEPOIMENTOS DO SEGUNDO BLOG, ONDE TODOS OS DEPOIMENTOS QUE ME FORAM ENVIADOS ESTÃO SOB PSEUDÔNIMO. E PEDIU PARA QUE EU RESUMISSE A MINHA HISTÓRIA. ACABEI DEIXANDO ALGUNS FATOS DE FORA (ESQUECENDO), MAS O RESUMO FOI COLOCADO NA ÍNTEGRA. É BOM SABER QUE TEMOS VOZ...SEM SERMOS APELATIVOS...
______________________________________________________________________

PEDOFILIA:
DIGA NÃO!
O perfil é do típico “gente boa”,
politicamente correto, inserido na
sociedade, com profissão e renda,
alguns casados e com filhos,
acima de qualquer suspeita. Eles
se aproximam sorrateiramente,
ganham a confiança da criança,
e em seguida arrancam sua
inocência e infância.

O PERIGO MORA AO LADO
Em março deste ano o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada - IPEA divulgou o estudo Estupro no Brasil.
A pesquisa estima que pelo menos 527 mil pessoas
são estupradas por ano no Brasil. Deste total, 70% são
crianças e adolescentes mas apenas 10% dos casos
chegam ao conhecimento da polícia.
A impunidade é ainda mais frequente quando o crime é
cometido por um membro da família ou pessoa próxima
à criança. Por medo e por vergonha o crime é silenciado
e o criminoso fica impune para continuar a prática com
aquela e outras crianças.
De modo geral, 70% dos estupros são cometidos por
parentes, amigos e conhecidos da vítima. Em se tratando
de crianças, este número sobre para 87,5% o que aumenta
ainda mais a impunidade já que segundo a ministra
Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos
“As autoridades chegam a uma parcela pequena. A
violência é mantida sob um manto de segredo quando
se trata do abuso sexual intrafamiliar. É difícil romper
este segredo”.
Delair e Bya sabem bem como é guardar o aterrorizante
segredo. Elas não se conhecem, mas, carregam traumas
de infância muito parecidos. Foram abusadas e
aterrorizadas pelos seus próprios pais, guardaram por
anos as lembranças e dores das agressões. Quebraram
o silêncio ao contarem para os maridos, e apoiadas por
eles, resolveram ajudar outras vítimas e ex-vítimas.


BYA ALBUQUERQUE
“Meu pseudônimo é Bya Albuquerque e sou fundadora da
comunidade “Filhas do Silêncio”. Faz 5 anos que fundei
a comunidade. Hoje tenho 47. Fui abusada pelo meu pai.
O abuso começou antes dos 2 anos e se prolongou até os
26, um pouco antes do meu casamento. Vim de família de
posses. Meu pai foi um intelectual com amigos influentes
e também foi um pedófilo e psicopata. Minha mãe
desconfiava, mas ficou quieta. Considerou-me como rival
dela. Passei por todas as fases do abuso: molestamento,
pedofilia, estupro. Com direito a uma gravidez e um
aborto. Muitos perguntam: por que tanto tempo? Eu fui
altamente, cruelmente, e brutalmente chantageada pelo
me pai. Pior que abuso físico, foi a violência emocional
que sofri por parte da minha mãe e do meu pai. Fiz isso
para proteger minha única irmã, 12 anos mais nova. Hoje
em dia ela me despreza e acha que sou mentirosa e louca.
Minha mãe foi tão agressiva verbalmente comigo, que
deixei de viver a adolescência e juventude. Ela me fez
sentir-me um lixo. Após o casamento, meu pai sentiuse
perdedor e começou a praticar assedio moral comigo
e meu marido. Quando a família direta dele soube do
abuso, considerou-me um segredo sujo. Uma família com
dinheiro e formação intelectual.
As consequências físicas e emocionais que sofro até hoje,
e principalmente nesse tempo, são: Doença de Cushing,
vaginismo, transtorno alimentar, depressão, insônia,
fobia social, baixa autoestima, ataques de ansiedade
entre outras.
Sempre fui forte, me formei, casei, tenho dois filhos, mas
não sou feliz. Acho que alguém que passa pelo abuso
sexual e violência psicológica dificilmente alcançará a
paz.
Minha comunidade tem como objetivo maior ajudar
mulheres e homens mais velhos, que vivenciaram o abuso
numa época que isso e o sexo eram tabu, a serem mais
fortes e conseguirem desabafar. Sou sozinha, mas aos
poucos tenho conseguido ajudar e com isso, ajudar a mim
mesma. Não tenho ilusão que o abuso sexual vai acabar.
É como falar no fim de uso das drogas, violência urbana,
corrupção. Mas acredito plenamente na solidariedade”.
Bya tem três blogs, no Diário de uma filha do Silêncio,
fala sobre seu dia a dia e das dificuldades decorrentes dos
traumas sofridos. No Filhas do Silêncio ela posta notícias,
poesias e letras de músicas e no Filhas do Silêncio 2,
dezenas de pessoas postam seus depoimentos, e usam
o espaço para desabafar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário